A família da mulher grávida de 38 semanas e da bebé recém-nascida que morreram no Hospital Amadora-Sintra contesta as declarações da ministra da Saúde, que afirmou na Assembleia da República que a vítima “não teve acompanhamento até à data em que entrou” no hospital. Segundo familiares e amigos, esta versão não corresponde à verdade. A mulher, que vivia em Portugal há cerca de um ano, estava a ser acompanhada no Centro de Saúde de Agualva-Cacém, onde realizou pelo menos duas consultas médicas e foi submetida a exames.

De acordo com documentos apresentados pela família, a 14 de julho foram-lhe prescritos exames complementares e, um mês depois, a 14 de agosto, foi referenciada ao Hospital Amadora-Sintra por ter sido identificada uma situação de “elevado risco obstétrico”. No entanto, a primeira consulta hospitalar ocorreu mais de um mês e meio depois. A 17 de setembro, o hospital indicou que não foram detetados problemas. Já no final de outubro, quando regressou para nova avaliação, foi-lhe identificada uma hipertensão ligeiramente elevada. Apesar disso, após exames e análises, os médicos consideraram que não havia motivo para internamento e deram-lhe alta, mandando-a regressar a casa.
No dia seguinte, a mulher começou a sentir falta de ar e dores no peito, tendo chamado os serviços de emergência. A família afirma que a assistência demorou demasiado tempo e que, quando finalmente foi socorrida, já não foi possível evitar o desfecho trágico.
Paloma Mendes, amiga próxima da vítima, sublinha que a mulher tinha regressado recentemente da Guiné-Bissau, onde visitara o marido, e que estava a viver legalmente em Portugal, cumprindo todas as orientações médicas. Para a família e amigos, as declarações da ministra foram “infelizes” e injustas, uma vez que colocam em causa a responsabilidade da própria grávida, ignorando as falhas evidentes no sistema de saúde.
O caso levanta sérias preocupações sobre o acompanhamento de gravidezes de risco, a articulação entre os centros de saúde e os hospitais e, de forma mais ampla, sobre o tratamento das mulheres africanas e migrantes no sistema de saúde português. A família pede agora um inquérito rigoroso e transparência total na investigação, para que a morte da mãe e da bebé não fique sem respostas nem consequências.
Fonte: SIC

